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FOME, OBESIDADE, DESPERDÍCIO: UM PROBLEMA DE TODOS NÓS


por Antônio Coquito (Notas) em Domingo, 9 de Junho de 2013 às 09:54
 
(*) Por Antônio Coquito
A afirmativa do senso comum de que o Brasil é o país da contradição traz à tona o debate e a busca de soluções no campo da segurança alimentar e nutricional sustentável. Trata-se do tripé Fome, Obesidade, Desperdício. A ação direta neste dilema é um chamado a toda sociedade, para assumir um papel de conscientização pública e reversão de indicadores preocupantes. Os desafios devem fomentar reflexão e busca de atitudes imediatas.                                                                                     
 
O Brasil é um dos principais produtores de alimentos do planeta.  Temos a maior e mais rica oferta de produtos alimentícios. Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (ONU- FAO) mostram que o nosso país produz 25,7% a mais de alimentos do que necessita para alimentar toda a população. Porém, desta realidade, constamos que uns comem de menos- em condições inadequadas. Já outros, demais e com hábitos alimentares nada saudáveis. E, por fim, outros destinam boa parte dos alimentos ao lixo, configurando-se em toneladas de desperdício.
 
FOME
 
A radiografia da fome deve nos incomodar para a busca de soluções urgentes. Dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) relativa a 2009 apontam que 11,2 milhões de pessoas passaram fome no período. Os números dão conta de que 30% (trinta por cento) dos lares brasileiros não têm acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente.
 
A Pnad mostra que a fome brasileira tem uma identidade nordestina, rural, pobre, negra e de baixa escolaridade.  Segundo dados da pesquisa, a situação de insegurança alimentar atinge cerca de  8,6% (nível moderada) e 7% (nível grave).  Já na área urbana, os dados são de 6,2% (moderada) e 4,6% (grave). Em se tratando de regiões, o norte e o nordeste  do Brasil apresenta níveis inferiores à média nacional, no que se refere à segurança alimentar. Os estados com situação mais grave são Maranhão (35,4%) e no Piauí (41,4%. A pesquisa constata que, nestes estados nem a metade da das residências têm alimentação saudável e em condições adequadas. A região Sul é a que tem melhores condições.
 
O grau de instrução está ligado diretamente às condições de insegurança alimentar. Os dados da Pnad mostram que  sendo menor a escolaridade, mas precária é a alimentação. Segundo a pesquisa “em 2004, 29,2% dos moradores sem instrução ou com menos de um ano de estudo apresentavam restrição na quantidade de alimentos moderada ou grave.” Já em 2009, a proporção caiu para 20,2%”. Mesmo tendo melhorado os indicadores, a situação continua a desafiar os profissionais da área de nutrição.
 
OBESIDADE
 
O aumento de peso da população brasileira dá indícios de que temos um problema de saúde pública. Segundo dado da Organização Mundial de Saúde (OMS) existem no mundo mais de 1 bilhão de adultos com sobrepeso e 300 milhões com obesidade. A obesidade é fator de risco para problemas cardiovasculares, de diabetes, hipertensão arterial e certos tipos de câncer. Na saúde pública, o quadro de obesidade brasileira reflete em  R$ 1,5 bilhões na conta do Sistema Único de Saúde – SUS.
 
Dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE apontam que a obesidade cresce em todas as regiões do Brasil. Os números afirmam que “o sobrepeso atinge mais de 30% das crianças entre 5 e 9 anos de idade, cerca de 20% da população entre 10 e 19 anos e nada menos que 48% das mulheres e 50,1% dos homens acima de 20 anos.” Levando em conta o poder aquisitivo, “entre os 20% mais ricos, o excesso de peso chega a 61,8% na população de mais de 20 anos. Também nesse grupo concentra-se o maior percentual de obesos: 16,9%. No ritmo em que estamos, a previsão do IBGE é que em 10 (dez) anos possamos atingir os padrões norte-americanos.
 
Atenta aos dados de obesidade e sobrepeso, a Assembleia Mundial da Saúde - entidade deliberadora da OMS - chamou a atenção para o problema. Em seu documento chamado Estratégia Global em Alimentação, Atividade Física e Saúde, a instituição adverte aos governos de todos os países que se comprometem em implementar políticas que estimulem padrões saudáveis de alimentação e de atividade física.
 
DESPERDÍCIO
A trajetória do desperdício começa na produção de alimentos. O IBGE deu o alerta: “estamos desperdiçando cerca de 6 milhões de toneladas de alimentos.” Explicitando o desperdício,  dados do Instituto Akatu,  que trabalha pelo consumo consciente, 44% do que é plantado se perde na produção, distribuição e comercialização. Sendo, 20% na colheita, 8% no transporte e armazenamento, 15% na indústria de processamento e 1% no varejo. No consumo caseiro e hábitos alimentares, as perdas acumulam mais de 20%. No total, o desperdício significa algo em torno de 64%.
 
Os números do Akatu sinalizam que ao mesmo tempo em que 14 milhões de brasileiros passam fome, “o restante da população joga no lixo 30% de todos os alimentos comprados.” Os dados o Akatu são reforçados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) constata que o brasileiro desperdiça mais do que consome. Os dados do IBGE confirmam o consumo de 35 quilos por ano. Unindo os dados da Embrapa e do IBGE a perda é 2% maior do que o consumo. O índice de hortaliças chega a 37 quilos.  Esta situação tem um perfil que aponta 20% (vinte por cento) acontece em casa, 15%(quinze por cento) nos restaurantes.
 
A preocupação com uma ampla conscientização sobre o desperdício tem consequências econômicas, ambientais e sociais. Dedicando-nos a combater o desperdício e a promoção de bons hábitos alimentares, estaremos proporcionando o acesso ao alimento para boa parte da população. Junto destas,  levando bem-estar e  vida saudável.
 
SOLUÇÕES
 
Onde há problemas, temos que buscar saídas e soluções. As iniciativas de reversão dos dados assustadores são diversas, e podem ser implementadas por cada um. As atitudes envolvendo os mais diversos atores sociais podem ser diversas. O importante é conhecer o contexto e agir. Um exemplo é a aquisição de produtos locais e/ou regionais, além de mais saudáveis e com custo mais baixo, contribuem para diminuir a poluição e o desperdício causado pelo transporte.
 
Em casa, nos restaurantes, nas escolas e instituições – podemos implantar a cultura do aproveitamento integral dos alimentos. No preparo, sempre que possível, reutilizar as cascas e talos.  Todos podem resultar em sucos e tortas; bem como enriquecer arroz, sopas, risotos e outros.
 
O quadro brasileiro é um convite à intervenção nas políticas públicas – municipais, estaduais e nacional - de saúde, segurança alimentar e cidadania. Nas políticas e nos programas sociais, encontramos canais efetivos para implementar ações com atuação local; que contribuam na reversão desta que pode ser considerada uma agressão conjuntural colocada diante dos nossos olhos.
 
(*) Antônio Coquito é jornalista socioambiental com especialização em Marketing e Comunicação com ênfase em temáticas sociais -Terceiro Setor- Responsabilidade Social - Políticas Públicas.   Também em Comunicação e Direitos Humanos com ênfase em Educação e Cidadania.


A afirmativa do senso comum de que o Brasil é o país da contradição traz à tona o debate e a busca de soluções no campo da segurança alimentar e nutricional sustentável

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