Comer peixe diminui risco de câncer colorretal nas mulheres
Estudo mostra chance reduzida de câncer colorretal em mulheres que têm na dieta ao menos três porções de pescado por semana. Cientistas não sabem por que isso não ocorre com os homens
Publicação: 01/03/2012
Uma pesquisa publicada no periódico científico American Journal of Clinical Nutrition revela que o consumo de pelo menos três porções de peixe por semana reduz o risco de mulheres desenvolverem tipos específicos de pólipos de cólon – que podem evoluir para câncer colorretal (CCR). Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indicam que o câncer no cólon e no reto é o terceiro tipo mais incidente em todo o mundo. No Brasil, as regiões Sul e Sudeste são as que apresentam mais casos da doença. O Rio Grande do Sul, estado com o maior número de portadores, tem cerca de 27 casos a cada 100 mil homens e 27,6 a cada 100 mil mulheres.
Os pesquisadores do Vanderbilt-Ingram Cancer Center, dos Estados Unidos, justificam que a gordura ômega-3, presente em peixes como atum, sardinha e salmão, é capaz de diminuir a inflamação no corpo e ajudar a protegê-lo contra a doença.
Os pesquisadores do Vanderbilt-Ingram Cancer Center, dos Estados Unidos, justificam que a gordura ômega-3, presente em peixes como atum, sardinha e salmão, é capaz de diminuir a inflamação no corpo e ajudar a protegê-lo contra a doença.
Para chegar à conclusão do estudo, cerca de 5,3 mil pessoas se submeteram à colonoscopia – exame endoscópico do intestino grosso indicado para diagnosticar tumores iniciais e detectar doenças inflamatórias no intestino e outras patologias. Durante a pesquisa, os participantes revelaram com que frequência consumiam peixes. Também foram analisadas amostras de urina para encontrar biomarcadores – instrumentos que identificam uma substância tóxica ou condições adversas antes que haja danos à saúde.
As mulheres que consumiam a porção indicada de peixe por semana apresentavam uma atenuação de 33% no risco de desenvolver pólipos do cólon e adquiriam níveis mais baixos do hormônio prostaglandina E2 (PGE2), que está ligado à inflamação. Os pesquisadores não observaram, contudo, o mesmo resultado em homens. “A diferença entre homens e mulheres pode estar na alimentação em geral”, diz Harvey Murff, coordenador da pesquisa. “Mesmo que os homens estejam comendo mais ácidos graxos ômega-3, também podem estar comendo mais ácidos do tipo ômega-6, presentes em aves, ovos, abacate e cereais, entre outros alimentos, o que pode cortar o efeito”, acrescenta.
Tanto os pólipos de cólon quanto o câncer estão associados ao aumento do PGE2, um mediador lipídico de importância na bioquímica, ligado a receptores acoplados às proteínas g – componentes predominantes em várias doenças e drogas medicinais. “A capacidade de reduzir o nível do hormônio é a explicação para o fato de podermos ver a redução do risco dos pólipos de cólon nas pessoas.”
Murff acredita que, apesar das intervenções efetivas, como a colonoscopia — que pode reduzir a chance de ter a doença —, o câncer colorretal ainda é a segunda patologia que mais causa mortes nos Estados Unidos, ficando atrás somente do câncer de pulmão. “Há, aproximadamente, 140 mil novos casos de câncer no cólon e no reto diagnosticados todos os anos nos EUA. Esse número, entretanto, está diminuindo aos poucos devido a campanhas e outras ações políticas”, justifica.
Consumo
Em 2009, cada brasileiro comeu, em média, nove quilos de peixe – um aumento de aproximadamente 40% em relação ao consumo verificado em 2003 (6,46kg) –, número próximo ao idealizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 12 quilos por habitante a cada ano. No estado do Amazonas, o consumo per capita do pescado é de 54 quilos/ano. Como indica um relatório do Inca, na Região Norte, o câncer de cólon e reto atinge cerca de quatro mulheres a cada 100 mil – um dos menores índices do país. “Esse mesmo resultado foi descrito em outros países que consomem muito peixe, como o Japão. Eles podem ser relacionados com a minha pesquisa, mas é difícil fazer certas associações sem um estudo mais profundo”, observa Murff.
O oncologista Selmo Minucelli não se surpreendeu com o resultado da pesquisa e a relação entre o consumo de peixe e a diminuição do risco de desenvolver pólipos do cólon, com níveis mais baixos de PGE2. “Outros estudos associam a carne do peixe a vários benefícios para o corpo. Já sabemos, por exemplo, que o pescado pode ser responsável pelo bem-estar dos vasos arteriais.”
Minucelli alega, contudo, que muitos brasileiros desconhecem esse tipo de câncer – só em 2010, ele foi detectado em 30.140 brasileiros (14.180 homens e 15.960 mulheres). “Não temos campanhas de prevenção como as relativas a cânceres mais conhecidos, como o de próstata e de mama. O CCR pode ser identificado com exames fáceis”, completa.
Novo objetivo
A oncologista Cláudia Ottaiano acredita que é imprescindível que os brasileiros a partir de 50 anos façam uma colonoplastia para identificar os pólipos. “Nosso objetivo é evitar que a população tenha acesso a muitos produtos industrializados e que se preocupe mais com o que consome. Sabemos que o peixe têm ômega-3 e atua como anti-inflamatório, mas ainda há muito a ser estudado sobre a relação dele com o câncer”, diz.
O nutricionista do Inca Fábio Gomes considera que, para seguir uma recomendação específica para prevenir o câncer consumindo peixe, outros estudos precisam apontar o mesmo resultado. Ele alerta que é necessário tomar cuidado com a forma de preparar a carne, que pode conter elementos cancerígenos:
O nutricionista do Inca Fábio Gomes considera que, para seguir uma recomendação específica para prevenir o câncer consumindo peixe, outros estudos precisam apontar o mesmo resultado. Ele alerta que é necessário tomar cuidado com a forma de preparar a carne, que pode conter elementos cancerígenos:
“Se consumirmos peixe grelhado em vez de frito, contribuiremos para uma vida mais saudável e com riscos menores de desenvolvimento de câncer. A carne vermelha em si, consumida em excesso, independentemente da forma de preparo, está ligada ao estímulo e à hiperproliferação de células no nosso intestino”, comenta Gomes, lembrando que a patologia é uma multiplicação exacerbada e descontrolada de células.
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