Personalidade reconhecida internacionalmente pelo trabalho no combate à fome, Dom Mauro Morelli, presidente do Conselho de Segurança Alimentar (CONSEA) de Minas Gerais e Bispo Emérito de Duque de Caxias, acredita que a produção de peixes é estratégica para garantir segurança alimentar e mudanças sociais significativas no Brasil.
Contrariando a classificação dos projetos de combate à fome como “políticas assistenciais”, Dom Mauro defende a integração da produção pesqueira e aquícola a programas sociais de fôlego, que signifiquem alimento de qualidade às populações e garantias de renda às famílias. “Assistência é transitória. Alimentação é direito básico, não é favor. Não temos políticas de segurança alimentar por ter pena. Devemos fazer por vergonha de ver crianças morrerem de fome”, criticou. Em sua conferência no I Pense Pesca, nesta quarta-feira (14), em Florianópolis, Dom Mauro apresentou o que considera uma “sequência de equívocos” por parte dos governos.
“O grande problema está no fato de que sempre tratamos a produção de alimentos apenas como uma moeda e não conferimos sustentabilidade em relação às fontes de produção desses alimentos. Além disso, nossos governantes preocupam-se com superávit da balança comercial, mas pergunto como isso garante alimento na mesa das pessoas?”, avaliou Dom Mauro.
Ele cita exemplo de projeto desenvolvido por um bispo do Nordeste, onde associações de no máximo 12 integrantes produzem peixes para comercialização. A região, localizada no centro do chamado “Polígono da Maconha”, tem graves problemas sociais que, segundo Dom Mauro, “empurram” centenas de famílias para a produção da maconha. “O projeto foi vitorioso porque garantiu a produção de alimentos para quem precisa e garantiu renda. E isso ocorreu de forma rápida. Em dois anos eles pagaram o investimento feito e garantiram, mensalmente, renda para suas famílias”, explicou.
O peixe, defende Dom Mauro, tem qualidade comprovada cientificamente para a alimentação humana, e é uma proteína cuja forma de produção é menos danosa e representa menos tempo para garantir retornos sociais. “Menos custos, mais preservação e mais qualidade. O pescado representa isso para nossa sociedade. E somos privilegiados pela natureza nesse aspecto; temos água em quantidade, mas é fundamental preservar”, disse.
Defesa da agricultura familiar
Para Dom Mauro, uma das mudanças que deve figurar no horizonte das políticas públicas brasileiras é a priorização ao modelo de produção da agricultura familiar, em detrimento das grandes propriedades rurais, em geral baseadas na monocultura. “Alimentos para garantir vigor e saúde saem da agricultura familiar. E em números, ela é muito mais eficiente do que o agronegócio, além de menos danosa ao meio ambiente”, observou.
As experiências de produção de peixes em pequenas propriedades mostram o acerto na análise de Dom Mauro. Em Santa Catarina, por exemplo, assentados da reforma agrária organizados em associações conseguiram ampliar a industrialização de peixes de água doce em mais de 150% nos últimos três anos, o que significou mais renda para milhares de famílias e também produtos de qualidade à população.
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